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O medo é um mecanismo de autocensura perigosíssimo em democracia. E no que diz respeito às mulheres jornalistas, as ameaças sexistas violentas são ainda recorrentes, o que torna fulcral que os órgãos e os reguladores ajam rapidamente. Criar um ambiente seguro para que os jornalistas possam agir à vontade nas suas redes sociais (…) é tão importante quanto criar condições laborais decentes para os jornalistas: são todos fatores que levarão a um melhor desempenho da função, uma melhor saúde mental e, em último caso, uma melhor democracia.

(Jornalista anónimo/a em resposta aberta a inquérito, Dezembro 2021)

Os ataques online são hoje parte do quotidiano da maior parte das e dos jornalistas. No entanto, nem todas as pessoas no jornalismo passam pelas mesmas experiências de assédio. A interatividade nas redes ou a visibilidade jornalística têm efeitos diferentes  e existem fatores como o género ou raça que se podem refletir na reação dos trollers. Assim, as mulheres, bem como pessoas de diferentes etnias, pessoas LGBTQIA+ e membros de outros grupos marginalizados, podem ser desproporcionalmente afetadas pelo assédio e abuso online, nomeadamente pela natureza dos ataques sofridos.

Com efeito, diversas pesquisas têm documentado os muitos e variados perigos para as mulheres que trabalham no jornalismo em todo o mundo. Se tanto homens como mulheres podem ser alvo de ataques online, elas estão muito mais sujeitas a comentários sexistas e ameaças de violência sexual. A violência online  contra mulheres jornalistas é, pois, qualitativamente diferente (OSCE, 2021), sendo elas alvo de assédio crónico e crescente, bem como de algumas das suas formas mais graves.

Quase 74% das mulheres jornalistas que, no final de 2020, responderam à pesquisa global ICFJ-UNESCO afirmaram ter sofrido violência online – 70% das mulheres heterossexuais  e 88% e 85% das mulheres que se identificam como lésbicas e bissexuais, respetivamente.

A violência online tem múltiplos efeitos, como é indicado no estudo The Chilling que se baseou na investigação ICFJ-UNESCO e que teve a participação de 900 jornalistas em 125 países, além de entrevistas com mais de 170 jornalistas e especialistas internacionais. Nele, as mulheres jornalistas indicam ter sofrido vários tipos de impacto da violência online sofrida, incluindo efeitos sobre a sua saúde mental, um acumular de receios sobre a sua segurança física e prejuízos sobre a sua reputação.

No plano nacional, o inquérito levado a cabo pelo Projeto “O Género nas Pandemias de Ódio” no final de 2021 revela, nomeadamente, que entre os 103 homens jornalistas  e as 87 mulheres jornalistas respondentes,

46,2% disse ter sofrido ataques online pelo menos uma vez

58,9% disse conhecer outros casos de ataques online a colegas de profissão

59.8% das mulheres jornalistas que sofreram ataques recebeu comentários sexistas

As mulheres jornalistas indicam mais frequentemente sofrer casos de assédio sexual à distância do que os seus colegas (19.5% vs 9.6%).

Mais de metade dos/as inquiridos/as (61,3%) concorda total ou parcialmente que a pandemia da COVID-19 exacerbou os problemas da violência online contra jornalistas.

40,5% dos/as inquiridos/as que sofreram ataques online reconhece não ter agido em consequência, ou que desvalorizou o caso

A maioria dos/as inquiridos/as (87,6%) concorda a algum nível que a violência online pode estimular a violência offline

Um número significativo de inquiridos/as (78,4%) concorda a algum nível admitiu que a violência online pode ter um efeito de autocensura

76,2% demonstram algum tipo de discordância com a ideia de a legislação ser adequada para responder ao problema da violência online

Para além da informação recolhida no inquérito, e tendo em vista um aprofundamento da dimensão de género da investigação, a equipa do Projeto analisou também uma amostra de comentários do Facebook a notícias e entrevistou em profundidade um grupo de 25 mulheres jornalistas.

Os principais resultados das três componentes do Projeto podem ser consultados no nosso ebook e em maior detalhe nos artigos publicados em revistas científicas com revisão por pares.

Consulte também o nosso Guia de Prevenção de Violência Online no Jornalismo e alguns materiais audiovisuais sobre o tema que aqui recolhemos.